As Quatro Faces de Mindfulness. Qual é a Sua?
Nem toda atenção plena é igual. Desafiando a sabedoria convencional sobre mindfulness, este post apresenta pesquisas que identificam quatro perfis distintos de atenção plena. Explore como essas diferentes maneiras de ser mindful se relacionam com o bem-estar psicológico e o que significam para abordagens personalizadas da prática de atenção plena.
MINDFULNESS
Fabio Marcovski, Ph.D.
11/22/20245 min ler
Por muito tempo considerada um caminho uniforme para o bem-estar, a atenção plena pode, na verdade, se manifestar de maneiras diferentes entre as pessoas. Pesquisas recentes, incluindo um estudo empírico que eu conduzi e publiquei durante meu doutorado (De Souza Marcovski & Miller, 2023), revelam que tendemos a expressar mindfulness de pelo menos quatro maneiras distintas.
O Renascimento da Atenção Plena
Para começar, dois pontos. Primeiro, a atenção plena é importante e está positivamente geralmente associada à acuidade mental, autoconsciência e vários marcadores de bem-estar. Segundo, mindfulness passou por uma espécie de renascimento, especialmente entre as décadas de 1990 e 2020. O crescente número de programas de ensino surgindo em escolas, hospitais, locais de trabalho, na terapia e além atesta esse renascimento.
Embora valiosa, a maior parte da pesquisa e do ensino de mindfulness mantém uma premissa geralmente pouco embasada: que as pessoas se enquadram em um único continuum de mais ou de menos atenção plena, em que alguns mostram maior mindfulness e mostram menos, ponto. Seria ótimo se a vida fosse assim, tão simples e linear, não?
Baseando-me no trabalho de outros laboratórios, meu estudo (De Souza Marcovski & Miller, 2023) questiona essa suposição. O que nós e outros pesquisadores temos descoberto é que não há um, mas múltiplos perfis, grupos ou faces da atenção plena. E essas faces, como as pessoas, não são todas iguais.
Decompondo a Atenção Plena
Para desenvolver este ponto, é crucial que a gente compreenda como a atenção plena é mensurada na literatura científica. Já há algum tempo, psicólogos e estatísticos desenvolvem medidas, ou escalas, de mindfulness. Pense nelas como questionários com itens descritivos com os quais as pessoas podem concordar ou discordar. Quando somadas, as respostas a essas escalas fornecem aos pesquisadores uma pontuação sobre onde as pessoas estão em termos de atenção plena.
Apesar da psicometria complicada—um termo sofisticado para o estudo das estatísticas por trás dos questionários psicológicos—a maioria dos pesquisadores concorda: a atenção plena é complexa e pode consistir em múltiplos aspectos relacionados. Prestar atenção no momento presente e não julgar a própria experiência podem ser duas das dimensões mais básicas. Será que existem mais do que duas dimensões básicas?
Entre em cena a teoria e o questionário das cinco facetas da atenção plena (FFMQ; Baer et al., 2006), hoje tido como uma escala bastante popular. Quais são essas cinco facetas, você pode perguntar? Em termos simples: observar a própria experiência, descrever a própria experiência, não julgar a própria experiência, não reagir (no piloto automático) à própria experiência, e agir com consciência. Simples e claro. Cinco facetas, cinco aspectos, cinco elementos correlacionados que, juntos, pintam um quadro mais completo da atenção plena. O que a maioria dos pesquisadores tem feito, no entanto, é isto: eles fazem a soma desses cinco elementos, misturaram todos juntos, e atribuem às pessoas um número distinto, uma fórmula de cinco em um.
Espere um momento. Mesmo que cada aspecto pareça importante por si só e como um todo, eles podem não ser— e não são—todos iguais. Pense só. Não poderiam algumas pessoas ter mais facilidade com palavras e ser excelentes em descrever sua experiência, mas ainda manter muito julgamento negativo em relação ao que estão sentindo? E que tal outros quem não julguem sua experiência de forma alguma, mas que tenham dificuldade em observar e descrever o que sentem? E se, em vez de um único grupo de altos e baixos nas cinco facetas, houvesse múltiplos subgrupos distintos de mindfulness?
Além da Abordagem Única para Todos
Em essência, é isso que um de meus estudos de doutorado demostra. Algumas pessoas mostram respostas médias em todas as cinco dimensões da atenção plena. Nós as chamamos de “pessoas com mindfulness médio". Algumas mostram pontuações acima da média em todas as cinco dimensões. Nós as chamamos de “pessoas com mindfulness alto". Esses dois grupos são equilibrados de certa forma e se alinham com a premissa de um único continuum circulando pela psicologia acadêmica.
Mas sabe o que é interessante? Dois grupos se mostraram desequilibrados, por assim dizer, nas cinco dimensões da atenção plena. Isto é, algumas se descreveram como excelentes observadoras, mas muito, muito críticas de sua própria experiência. Conhece alguma? Estas chamamos de “observadoras e críticas.” . Outras se declararam não tão observadoras, mas eram capazes de se abster de julgar a si mesmas e de agir com auto-consciência. A estas chamamos de "conscientemente não-julgadoras". E quem você acha que se descreveu mais feliz, menos ansioso e menos deprimido entre eles? Faça um palpite.
As Quatro Faces de Mindfulness Reveladas
Como você pode ter pensado, o grupo de mindfulness alto incorporou o perfil psicológico mais saudável: menor ansiedade, menor depressão e níveis mais altos de satisfação com a vida. O grupo de mindfulness médio mostrou níveis moderados em todas essas medidas. Justo, não?
Mas sabe o mais interessante: o grupo de “observadores críticos”—aqueles observadores que julgam duramente suas experiências—demonstrou os maiores índices de ansiedade e depressão, junto com os menores índices de bem-estar. Por outro lado, as pessoas conscientemente não-julgadoras, embora em melhor situação que os observadores críticos, mostraram resultados mistos em bem-estar psicológico.
Personalizando a Atenção Plena
Por mais simples que esses resultados sejam, esses grupos de mindfulness nos instigam a repensar o treinamento de mindfulness. Deveríamos continuar oferecendo programas únicos para todos? Ou poderíamos nos beneficiar de primeiro entender onde alguém começa—seu perfil natural de atenção plena—e então adaptarmos nossa abordagem de acordo? Por exemplo, alguém maior observação crítica poderia se beneficiar mais de exercícios focados em auto-compaixão e não-julgamento? E que tal uma pessoa conscientemente não-julgadora: ela poderia se beneficiar mais de práticas que aprimoram habilidades de observação e descrição? Embora estas perguntam permaneçam sem resposta empírica, elas são cada vez mais relevantes à medida que mais baixamos um novo aplicativo ou nos matriculamos numa aula online
A evidência é clara: com poucas exceções, a atenção plena—tanto o traço quanto a prática—nos faz um enorme bem. É simplesmente bom, e eu pessoalmente atesto, após anos de treinamento e pesquisa, o quão bom mindfulness tem sido em minha própria vida pessoal e profissional. No entanto, é hora de reconhecer as variedades da experiência de mindfulness, os quatro rostos da atenção plena, como observei de forma anteriormente. Reconhecê-los pode nos ajudar a adaptar abordagens a pontos de partida distintos. O caminho para a atenção plena, ao que parece, não é uma única via, mas sim múltiplas rotas, cada uma digna de reconhecimento e exigindo seu próprio mapa.
Curioso sobre seu próprio perfil de atenção plena? Você pode acessar meu estudo revisado por pares através da revista Current Psychology para um mergulho mais profundo nesses perfis, ou entrar em contato comigo para discutir como essas descobertas podem informar sua própria jornada de mindfulness.
Referências
Baer, R. A., Smith, G. T., Hopkins, J., Krietemeyer, J., & Toney, L. (2006). Using self-report assessment methods to explore facets of mindfulness. Assessment, 13(1), 27–45.
De Souza Marcovski, F. C., & Miller, L. J. (2023). A latent profile analysis of the five facets of mindfulness in a US adult sample: Spiritual and psychological differences among four profiles. Current Psychology, 1–14.
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